segunda-feira, 30 de junho de 2008

O Tempo certo das coisas...

Tudo tem sua hora.
Por que não respeitamos isso? Por que desejamos conduzir as coisas da nossa forma e temos tanta ansiedade para que tudo se resolva logo?Quando encontramos alguém queremos logo conhecer a pessoa, desvendar os seus mistérios e descobrir se ela ou ele é confiável ou não. Mas de onde vem a confiança senão da ação do tempo que mostra quem são as pessoas e o valor das coisas?Temos que aceitar a ação do tempo. Aprender a esperar é uma arte e uma grande evolução espiritual para um mundo em que tudo tem prazo, de validade inclusive. Precisamos tanto assumir o controle das coisas que não permitimos que as coisas durem mais do que supostamente deveriam. Temos pressa de que tudo termine, e não entendemos por que esperar? Por que amadurecer? Nos esquecendo que frutas consumidas antes da hora se tornam rígidas e sem gosto. Verdadeiros venenos para o paladar e a saúde.O tempo, como dizem os Mestres, é um grande escultor e a paciência o seu cinzel. Mas o que fazer com a nossa personalidade tão desejosa de exercer o controle e cristalizar os fracassos e derrotas?Há muitos anos, aprendi que devemos trabalhar com metas. E essa verdade assumida temerosamente por mim doeu muito em meu interior porque na época não sabia o que fazer, não tinha metas, portanto, também não sabia ao certo o que desejar. Como fazer planos para o futuro se as coisas do meu presente não eram claras?Devo confessar que essa história de planejar já me perturbou muito. Várias vezes invejei quem tinha uma idéia concreta do que faria da vida, mas fui percebendo que muita gente não sabia prever o futuro e que não estava sozinha nesta situação de não saber como conduzir a minha história. Felizmente, o caminho espiritual se abriu e todo o meu investimento e estudo nessa área me trouxe compreensão e contentamento.Aprendi com os Mestres que temos que viver lindamente o momento presente fazendo o melhor. Sendo feliz, tratando bem as pessoas. E mesmo que estejamos atravessando adversidades, precisamos nos manter otimistas.Quando algumas pessoas me pedem conselhos dizendo que não sabem o que fazer, sempre sugiro que invistam no autoconhecimento, em cursos, em leituras, que tentem freqüentar grupos e aprender com as pessoas, justamente porque quanto mais expandimos nossa vibração e nosso contato com o outro, mais amadurecemos no nosso caminho e nas nossas escolhas. E, assim, as diretrizes do destino vão se tornando mais claras. Com o passar do tempo, agindo com essa abertura, as coisas vão acontecendo e nossas potencialidades virão para fora. Pode acreditar.Ontem, um amigo me contou uma história que ilustra de forma magnífica a questão da ação divina do tempo. Quando minha casa aqui em São Paulo ficou pronta, Adriano ficou responsável por cuidar da fonte e da manutenção do nosso jardim que nos ofereceu, há pouco tempo, lindas e suculentas mexericas de dois pés que já estavam plantados antes de mudarmos para lá. Pois bem, agora, essas mesmas árvores que ficaram cheias de frutos estão perdendo as folhas...E, assim, nosso lindo jardim diariamente tem que ser varrido e as folhas recolhidas, inclusive da fonte que fica coberta de um manto verde.Adriano, para agilizar seu trabalho, chocoalhou bem as árvores pensando assim:“Quem sabe, as folhas caem hoje e amanhã não terei que limpar?”Pois é, amigos, nada disso aconteceu. Nem uma folhinha caiu com aquele balanço artificial. Adriano, desconsolado em sua aventura como jardineiro, constatou, rindo de sua pretensão em agilizar as coisas, que tudo tem seu tempo. E no dia seguinte, para tristeza dele, o jardim novamente estava coberto de folhas e ele teve que se contentar com seu aprendizado e varrendo o chão sentiu na pele o ensinamento de que há uma sabedoria em tudo.Lembre-se que nem sequer uma folha cai da árvore se não for da vontade divina, o que será então de nossa vida? Será que não existe uma força maior cuidando de nós, controlando os caminhos insondáveis do nosso destino?
Maria Silvia Orlovas

sábado, 28 de junho de 2008

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Centenário de Guimarães Rosa

"Só se pode viver perto de outro,
e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio,
se a gente tem amor.
Qualquer amor já é um
pouquinho de saúde,
um descanso na loucura."
__João Guimarães Rosa
O grande Guimarães que tinha o sonho de virar imortal, mas saberia que quando isto acontecesse, ele colocaria realmente à prova a sua condição de mortal. Sabendo disso, ele adiou ao máximo a sua cerimônia na Academia Brasileira de Letras. Quem nunca leu O Grande Sertões Veredas, a Terceira Margem do Rio, Manuelzão e Miguilim não experimentou o jeito roseano de se expressar, em sua linguagem inventada.
O verso acima foi retirado do Museu da Língua Portuguesa, localizado na Estação da Luz, em Sampa. Sabe o momento que todos são convidados para entrar no reino das palavras? Pois, é..... lembrou? Dentre tantos outros versos maravilhosos e nós, maravilhados com a experiência única daquele momento, este estava lá, e ainda está lá.
Info: No dia em que se comemoram os 100 anos do nascimento de João Guimarães Rosa, o município mineiro de Cordisburgo, cidade natal do escritor, recebe visitantes de todo o Brasil com uma programação especial. Na sexta-feira, 27 de junho, o Museu Casa Guimarães Rosa – instituição vinculada à Superintendência de Museus da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais -, em parceria com a Associação de Amigos do Museu e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, homenageia o escritor com diferentes eventos em vários pontos da cidade, durante todo o dia, sempre com entrada franca. A data marca o lançamento nacional do Selo comemorativo do Centenário pelos Correios."

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Aforismos

"Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou,
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente."
___Martha Medeiros

Google de bolso?



O Gphone, aparelho portátil desenvolvido nos moldes do iPhone e também desenvolvido pela Google, não será mais lançado no início do segundo semestre, como a empresa havia anunciado. A novidade deve chegar no mercado nos meados de dezembro, segundo o portal Times Online. O novo aparelho possui um sistema operacional batizado de Android e o Google espera aumentar sua receita com publicidade na internet, já que com o Gphone os usuários acessarão a rede via telefone.

Redação Adnews

Músico ignorado na rua

O cara desce na estação do metrô de NY vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes, ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares. 'A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife.

O vídeo da apresentação no metrô está no You Tube:
http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

terça-feira, 24 de junho de 2008

domingo, 22 de junho de 2008

O tal do Bookcrossing

Com o objetivo de transformar o mundo todo em uma grande biblioteca, surgiu o “okcrossing”: rede literária sem fronteiras que promove a leitura por meio de trocas de livros. Criado em 2001, nos Estados Unidos, o projeto foi baseado no Where’ s George? (em português, Onde está George?), movimento que rastreava, a partir do número de série, notas de dólares por meio da Internet. “Você podia descobrir o trajeto e a história daquela nota. Isso virou uma mania nos Estados Unidos e um americano quis fazer a mesma coisa com os livros”, conta a gestora de zonas Bookcrossing, Helena Castello Branco.Para isso, foi criado o site Bookcrossing. Por meio da página, os membros podem se comunicar e compartilhar livros sem o empecilho dos limites geográficos. A rede está presente em mais de 140 países, tem 680 mil membros e 5 milhões de livros cadastrados. No Brasil desde 2001, a comunidade hoje conta com cerca de 4.100 membros espalhados por todos os estados do país. A troca de livros é feita geralmente pela Internet, mas há também as chamadas zonas de bookcrossing.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Mundaneum, do bibliotecário, Paulo Otlet, visionário da Internet

Museu belga revela internet de papel do início do século 20 - O Mundaneum abriga um imenso catálogo criado por Paul Otlet, visionário da web e das redes sociais online

The New York Times

MONS, Bélgica - Em uma tarde de segunda-feira nublada, essa cidade medieval parece um local esquecido. Além da catedral gótica obrigatória, não há muito para ver aqui, exceto um pequeno museu de fachada de pedra chamado Mundaneum, escondido em uma rua estreita em um dos cantos da cidade. Parece uma casa apropriadamente antiga para o legado de um dos pioneiros perdidos da tecnologia: Paul Otlet.

Em 1934, Otlet fez planos para uma rede global de computadores (ou "telescópios elétricos", como ele os chamava) que possibilitaria que pessoas buscassem por milhões de documentos interligados, imagens, áudios e arquivos de vídeo. Ele descreveu como as pessoas usariam os dispositivos para mandar mensagens, compartilhar arquivos e até formar redes sociais online. Ele chamou a coisa toda de "reseau", que pode ser traduzido como rede ou web.

Historiadores normalmente traçam as origens da World Wide Web (w.w.w., ou internet) através de uma linhagem de inventores anglo-americanos como Vannevar Bush, Doug Engelbart and Ted Nelson. Entretanto, mais de meio século antes de Tim Berners-Lee lançar o primeiro navegador de internet em 1991, Otlet descreveu um mundo conectado onde "qualquer um em sua cadeira seria capaz de contemplar toda criação."

Embora a protoweb de Otlet se baseassem em uma junção de tecnologias analógicas, como cartões de indexação e máquinas de telegrafia, ela antecipou, de qualquer forma, a estrutura "hiperlinkada" da web de hoje.

"Essa foi uma versão Steampunk do hipertexto", disse Kevin Kelly, ex editor da Wired, que está escrevendo um livro sobre o futuro da tecnologia.

A versão de Otlet dependia da idéia de uma máquina que juntasse os documentos usando links simbólicos. Embora essa noção pareça óbvia hoje em dia, em 1934 ela marcou um grande avanço conceitual. "O hiperlink é uma das invenções menos valorizadas do século passado", disse Kelly. "Ela vai se juntar ao rádio, no panteão das grandes invenções."

Hoje em dia, Otlet e seu trabalho foram largamente esquecidos, até mesmo em sua terra nativa, a Bélgica. Embora Otlet tenha tido fama considerável durante sua vida, seu legado caiu vítima de uma série de acontecimentos históricos - entre os quais, a invasão nazista ao país, que destruiu boa parte do trabalho de sua vida.

Mas em anos recentes, um pequeno grupo de pesquisadores começou a recuperar a reputação de Otlet, republicando parte de seus escritos e angariando fundos para estabelecer o museu e arquivo em Mons.

Os curadores do museu Mundaneum, que celebra seu décimo aniversário na quinta-feira, 19, planejam publicar parte da coleção original na web moderna. Essa comemoração não vai ser só uma reivindicação póstuma por Otlet, mas também vai providenciar uma oportunidade de fazer uma reavaliação de seu lugar na história da web. Foi o Mundaneum apenas uma curiosidade histórica - um caminho tecnológico não seguido - ou sua visão pode fornecer esclarecimentos sobre a web como a conhecemos?

Em 1895, Otley conheceu um futuro ganhador do Nobel com quem tinha muito em comum: Henri La Fontaine, que se juntou a ele no plano de criar uma grande bibliografia de todo o conhecimento publicado no mundo.

Para 1895, tal projeto marcou um ato de arrogância intelectual colossal. Os dois homens começaram a coletar dados de todos os livros já publicados, juntamente com uma vasta coleção de revistas e artigos de jornal, fotografias, pôsteres e todo tipo de texto perecível - como panfletos - que as bibliotecas normalmente ignoram. Usando cartões de índice de 7 por 12 centímetros (o que havia de mais avançado na tecnologia de armazenamento), eles criaram um vasto banco de dados com mais de 12 milhões de entradas individuais.

Otlet e LaFontaine procuraram apoio para seu projeto com o governo belga, propondo a construção de uma "cidade do conhecimento", que aumentaria as chances do país se tornar sede da Liga das Nações. O governo forneceu espaço em um prédio público para o projeto, onde Otlet expandiu a operação. Ele contratou mais gente e estabeleceu um serviço de pesquisa pago que permitia que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, mandasse uma busca por correio ou telégrafo - algo como um mecanismo de busca atual. Pedidos chegaram de todo o mundo, mais de 1.500 por ano, sobre diversos tópicos, de bumerangues às finanças da Bulgária.

Com a evolução do Mundaneum, ele começou a sobrecarregar o espaço com o enorme volume de papel. Otlet começou a buscar por idéias de novas tecnologias para o manejamento da sobrecarga de informação. Em um certo ponto, ele sugeriu uma espécie de computador de papel, manipulado com rodas e raios que moveriam os documentos na superfície de uma mesa. Eventualmente, entretanto, Otlet chegou à resposta final, que envolvia descartar todo papel.

Como não existia algo como armazenamento de dados eletrônicos em 1920, Otlet tinha que inventar a resposta. Ele começou a escrever diversos documentos sobre a possibilidade do armazenamento eletrônico, culminando com o livro de 1934, Monde, no qual ele expôs sua visão de um "cérebro mecânico coletivo" que abrigasse toda a informação do mundo, acessível instantaneamente em uma rede global de informação.

Tragicamente, bem quando a visão de Otlet começou a se cristalizar, o Mundaneum entrou em uma fase difícil. Em 1934, o governo belga perdeu o interesse no projeto, após a oferta de o país para ser sede da Liga das Nações ser recusada. Otlet teve que mover o arquivo para um local menor e, após dificuldades financeiras, teve que fechá-lo ao público.

Um bom número de funcionários continuou trabalhando no projeto, mas o sonho terminou quando o nazistas marcharam pela Bélgica em 1939. Os alemães esvaziaram o local original do Mundaneum para dar espaço para uma exibição de arte do Terceiro Reich, destruindo milhares de caixas cheias de cartões. Otlet morreu em 1944, falido e esquecido.

Depois da morte de Otlet, o que sobreviveu do Mundaneum original ficou para existir na obscuridade em um velho prédio da Universidade Livre em Parc Leopold até 1968, quando um jovem estudante da graduação chamado W. Boyd Rayward começou a seguir a trilha de papel.Tendo lido parte do trabalho de Otlet, ele viajou ao escritório abandonado de Bruxelas, onde descobriu um quarto, como um mausoléu, cheio de livros e papéis com teias de aranha.

Rayward ajudou, desde então, no ressurgimento do interesse no trabalho de Otlet, um movimento que por fim angariou atenção suficiente para conseguir desenvolver o museu em Mons.

Hoje em dia, o novo Mundaneum revela interessantes relances de como a web poderia ter sido. Longas filas de gavestas de catálogos contêm milhões dos cartões de índice de Otlet, apontando o caminho para o grande arquivo que contém todos os artefatos. Uma equipe de biblioteconomistas conseguiu catalogar apenas 10% da coleção até agora.

O arquivo revela tanto as limitações como o potencial da visão original de Otlet. Ele imaginou uma equipe de profissionais que analisassem cada peça de informação que chegasse, uma filosofia que vai contra a idéia básica da web.

"Eu penso que Otlet teria se sentido perdido com a internet", disse seu biógrafo, Francoise Levie. Até com um pequeno exército de profissionais, o Mundaneum original jamais poderia acomodar o volume de informação produzida hoje na web.

Apesar dessas limitações, a versão do hipertexto de Otlet tinha algumas vantagens importantes com relação à web de hoje. Primeiro, ele viu um tipo mais inteligente de hiperlink. Enquanto links na web servem como um tipo de ligação muda entre dois documentos, Otlet vislumbrou links que carregavam significado anotando, por exemplo, se os documentos concordavam ou discordavam entre si.

Otlet também viu possibilidades de redes sociais, que deixassem os usuários "participarem, aplaudirem, criticarem."

Enquanto ele provavelmente fosse ficar confuso com o ambiente do Facebook ou do MySpace, Otlet viu alguns dos aspectos mais produtivos das redes sociais - a habilidade de trocar mensagens, participar em discussões e trabalhar coletivamente para recollher e organizar documentos.

Os curadores do Mundaneum de hoje esperam que o museu não termine da mesma maneira que seu precursor. Embora o projeto sempre atraia financiamento, ele batalha para atrair visitantes.

"O problema é que ninguém conhece a história do Mundaneum", disse sua arquivista, Stephanie Manfroid. "As pessoas não se interessam necessariamente por ver um arquivo. É como, você preferiria ver o último Star Wars ou ir a um catálogo gigante?"

Batalhando para ampliar seu apelo, o museu abriga regularmente exposições de pôsteres, fotografias e arte contemporânea. E enquanto apenas um pequeno número dos turistas cheguem ao pequeno museu em Mons, a cidade ainda pode encontrar seu lugar no mapa histórico da tecnologia. Ainda este ano, uma corporação pretende abrir um centro de dados na cidade: Google.
Fonte: NYTimes
Outras informações: http://www.mundaneum.be/
P.S.: Otlet era bibliotecário, Pioneiro da Gestão da Informação, foi o co-criador do Instituto Internacional de Bibliografia, que tinha o objetivo de organizar as diferentes fontes de investigação científica e fornecer informação para a recuperação em qualquer documento publicado mundialmente.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Salve, Jorge!


"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos,
tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam,
e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes
se arrebentem sem o meu corpo amarrar."

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aforismos

"O caminho para a felicidade é parar de preocupar-se com o que está além de nosso poder."
__Epícteto

WEB 3.0


domingo, 15 de junho de 2008

e tem aquele jeito dela ir embora . . .

... um beijo estalado na minha boca. Um beijo ou um cheiro. nunca se sabe. olhos bem fechados. A mão direita às vezes no meu rosto, de leve tocando a minha barba sempre mal-feita, um roçar da mão pra dar o equilíbrio. A mão esquerda invariavelmente no meu ombro direito, e um pequeno apertar das pontinhas dos dedos. Ainda no meio de tudo, por mais breves que sejam aqueles segundos, um sorriso de canto dos lábios. um beijo ou um cheiro e um sorriso. Tudo na mais alta velocidade porque geralmente só se vai quando o tempo já se passou. Todo nosso tempo possível. Seja no quarto do motel, na sala de aula, num barzinho. O telefone toca, é tempo de despedida e pronto. Parte sem olhar pra trás, nunca olhar pra trás. Num tiro só, num único golpe, a toda força.na mesa do bar, a nossa cerveja, o teu martini. Conversas bestas pra preencher o tempo. Você do lado meu. Cabelos ao vento, sorriso à flor da pele, gargalhadas. Gosto quando você se exibe, porque é me exibir junto. Mostrar que eu posso com algo tão fuderosamente instigante. Porque todo mundo ali imagina aquela gargalhada de mulher em cima da própria cama. O telefone toca. Um beijo (ou um cheiro), os olhos, a mão direita, a esquerda, o sorriso. A partida sem olhar pra trás. Três passos se passam e ele me diz:
- meu chapa, que mulher é essa?
- pshishishi...o ritual ainda não acabou.
- ela nunca olha pra trás.

sábado, 14 de junho de 2008

Ímpares


Espetáculo maravilhoso! Foi ótimo rever antigos professores dançando na mais bela maestria. O tango então.... Nossa, quer me levar para a dança novamente.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Bibliotecas Temáticas

Biblioteca Roberto Santos (cinema). Rua Cisplatina, 505, Ipiranga, 2273-2390.
Biblioteca Hans Christian Andersen (contos de fadas). Avenida Celso Garcia, 4142, Tatuapé, 2295-3447.
Biblioteca Belmonte (cultura popular). Rua Paulo Eiró, 525, Santo Amaro, 5687-0408.
Biblioteca Cassiano Ricardo (música). Avenida Celso Garcia, 4200, Tatuapé, 2092-4570.
Biblioteca Alceu Amoroso Lima (poesia). Rua Henrique Schaumann, 777, Pinheiros, 3082-5023.

Das 8 às 19 horas (seg. a sex.) e das 9 às 16 horas (sáb.).
O horário de funcionamento é o mesmo para todas as bibliotecas temáticas.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Aforismos

"O sonho encheu a noite, extravasou para o meu dia.
E é dele que vou viver, porque sonho não morre".
___Adélia Prado

Lendo Imagens . . .



Acabo de ler mais um livro do escritor Alberto Manguel. O que posso dizer, foi mais uma vez maravilhoso. O primeiro contato que tive com Manguel foi em 1997, com o livro Uma história da Leitura, depois teve os Livros e os Dias, Stevenson sob as Palmeiras, No bosque do Espelho. Tive o prazer de conhecê-lo quando esteve em Belo Horizonte, no lançamento de Uma História da Leitura, e como toda fã comentei sobre a obra e o que ela havia me causado, com suas belas palavras. Só sei que ganhei a dedicatória: "sinta-se incluída dentre As meninas". Gostei da originalidade e se já era fã fiquei mais ainda. Compartilho uma bela passagem do Lendo Imagens:

"Uma construção é a especie: um monumento, o indivíduo. Tal como a música, lida tanto pela partitura como pelo conteúdo, monumentos compreendem um texto, mas um texto cujos vários significados existem apenas em nossa interpretação. Em alemão, duas palavras, Mahnmal e Denkmal, servem para lembrar-nos dessa dupla leitura. As raízes latinas de seus equivalentes em inglês Memorial e Monument, retomam à deusa grega da memória, Mnemosine, adotada pelos romanos como Moneta, um epípeto de Juno, em cujo templo atiram-se moedas, dando-nos a palavra inglesa money. A memória torna-se concreta em pedras e cunhagem: algo que sirva como lembrete e advertência, e algo que sirva como um ponto de partida para pensamento ou ação. Todos os monumentos trazem tacitamente a inscrição 'Lembre-se e pense'."

terça-feira, 10 de junho de 2008

País com Branca de Neve entre mais lidos não é sério

"Um país que tem Branca de Neve entre os livros mais lidos não é sério", diz a pesquisadora, Marta Morais da Costa, especialista em Literatura. Na lista de livros citados pelos entrevistados pelo Ibope como "a última ou atual leitura", o conto infantil aparece em oitavo lugar. Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Os Três Porquinhos também estão entre as dez primeiras posições.

Matéria completa em:
http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=774630&tit=Pais-com-Branca-de-Neve-entre-mais-lidos-nao-e-serio

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Filme - Na Natureza Selvagem

Christopher J. McCandless (12 de fevereiro de 1968 - agosto de 1992) foi um viajante americano que morreu perto do Parque Nacional Denali depois de caminhar sozinho na selva alasquiana com pouca comida e equipamento. O autor Jon Krakauer escreveu um livro sobre sua vida, Na natureza selvagem, publicado em 1996, que em 2007 foi adaptado em um filme dirigido por Sean Penn, Na natureza selvagem, com Emile Hirsch como McCandless.
McCandless cresceu em Annandale,
Virginia. Seu pai, Walt McCandless, trabalhou para a NASA como um especialista em antenas. Sua mãe, Wilhelmina “Billie” Johnson, foi secretária de seu pai e depois ajudou Walt a fundar e dirigir uma bem sucedida empresa de consultoria.
Desde a primeira infância seus professores notaram que Chris era extraordinariamente enérgico. Conforme cresceu, ele uniu isso a um intenso idealismo e resistência física. No colegial, ele foi capitão da equipe de
cross-country onde ele estimulava seus companheiros a considerarem a corrida como um exercício espiritual no qual eles estavam “correndo contra as forças da escuridão… todo o mal do mundo, todo o ódio.”
Ele se graduou no W.T Woodson High School em 1986 e na Emory University em 1990, especializando-se em
história e antropologia. O fato de vir da classe média alta e ter sucesso acadêmico escondeu um crescente desprezo para o que ele viu como o materialismo vazio da sociedade americana. “No seu primeiro ano de faculdade chamaram-no para ser membro na Phi Beta Kappa, mas ele rejeitou já que fama e títulos são irrelevantes,” citado de Na natureza selvagem. Os trabalhos de Jack London, Leo Tolstoy e Henry David Thoreau tiveram grande influência sobre McCandless, e ele sonhava em deixar a sociedade para um período thoreauniano de contemplação solitária.
Depois de se graduar em Emory em 1990, ele deu seus $24,000 de economia como caridade para Oxfam International e começou a viajar pelo país, usando o nome “Alexander Supertramp.” McCandless fez sua rota pelo
Arizona, Califórnia, e Dakota do Sul, onde ele trabalhou numa máquina elevatória de grãos. McCandless alternou entre períodos relativamente fixos, nos quais ele foi bastante gregário e freqüentemente trabalhou num emprego, e passou tempos vivendo sem dinheiro e pouco ou nenhum contato humano, às vezes buscando por comida com sucesso na selva. Ele sobreviveu a diversas provações perigosas durante estes períodos selvagens, como perder seu carro na enchente relâmpago e fazer canoagem sozinho descendo trechos remotos do rio e ao longo do Golfo da Califórnia. McCandless obteve orgulho em sobreviver com o mínimo de equipamentos e fundos, e geralmente fez pouca preparação para suas expedições.
McCandless tinha sonhado com uma “
Odisséia Alasquiana” por anos: ele viveria livremente na região, muito distante da civilização, e manteria um diário descrevendo seu progresso físico e espiritual conforme encarasse as forças da natureza. Em abril de 1992 McCandless teve sucesso em viajar pedindo carona até Fairbanks, Alasca. Ele foi visto vivo pela última vez por James Gallien, que deu para ele uma carona de Fairbanks até Stampede Trail. Gallien ficou interessado por “Alex”, que tinha pouco equipamento e nenhuma experiência na mata alasquiana. Gallien tentou convencer “Alex” a adiar sua viagem e ainda ofereceu carona para ele até o ancoradouro para comprar equipamento adequado. McCandless recusou toda assistência exceto um par de botas de borracha, duas latas de atum e um saco de salgadinhos.
Após machar a Stampede Trail McCandless achou um ônibus abandonado usado como um escudo de caça deixado numa região coberta de vegetação da trilha perto do Parque Nacional Denali e começou sua tentativa de viver livremente na região. Ele carregou para o ônibus um saco de 5 kg de arroz, um riffle 22, muita munição, um livro da vida das plantas locais, diversos outros livros, e algum equipamento de camping. Ele assumiu que poderia colher plantas e caçar pássaros. Apesar de sua inexperiência como caçador, McCandless pegou algumas pequenas caças, pássaros e um
alce. Entretanto, suas tentativas de preservar a carne falharam.
Seu diário contém registros cobrindo um total de 113 dias diferentes. Esses registros cobrem do eufórico até o horrível, com mudança da sorte de McCandless. Depois de viver com sucesso no ônibus por diversos meses, Chris decidiu sair, mas encontrou a trilha de volta bloqueada pelo Rio Teklanika, que tinha inundado consideravelmente menos em abril.
Em 6 de setembro de 1992, dois trilheiros e um grupo de caçadores de alce acharam esta mensagem na porta do ônibus:
“S.O.S. Eu preciso de sua ajuda. Estou machucado, quase morto e fraco demais para sair daqui. Estou totalmente só, não estou brincando. Pelo amor de Deus, por favor, continuem tentando me salvar. Estou lá fora pegando frutas nas proximidades e devo voltar esta noite. Obrigado, Chris McCandless. Agosto?”
Seu corpo foi achado no seu saco de dormir dentro do ônibus. Ele estava morto há mais de duas semanas. A causa oficial da morte foi fome.
Jon Krakauer acredita que McCandless morreu por ingerir as sementes da batata selvagem (Hedysarum alpinum), que McCandless escreveu sobre comer e culpou por sua debilitante indisposição final.
Embora elas não são comumente conhecidas como venenosas, e a raiz da planta é comestível, há evidência de que as sementes contêm um alcalóide que impede o uso da glicose. Entretanto, Dr. Thomas Clausen da Universidade do
Fairbanks no Alasca conduziu testes extensivos na semente e constatou que não houve toxinas ou alcalóides. (Note que esta é a teoria que Krakauer apresenta em seu livro sobre McCandless, e difere da teoria anterior que ele relatou em seu artigo da revista Outside, sobre a segunda planta — Hedysarum boreale mackenzii, uma planta de ervilha de cheiro — assemelhando-se com a batata selvagem e conhecida por ser venenosas.)
Na edição mais recente do seu livro, Krakauer modificou sutilmente sua teoria com respeito à causa da morte de McCandless. Ele acredita que as sementes da batata selvagem estavam mofadas e foi o mofo que contribuiu para a toxicidade das sementes.
O livro de Krakauer fez McCandless uma figura heróica para muitos. Em 2002, o ônibus abandonado em Stampede Trail onde McCandless acampou se tornou um ponto turístico de aventura. O filme de
Sean Penn Na natureza selvagem, baseado no livro de Jon Krakauer, lançado em setembro de 2007 foi bem recebido pela crítica, incluindo quatro estrelas de diversos grandes críticos como Roger Ebert. Em 21 de outubro de 2007 o filme tinha 81% de avaliação ‘fresca’ na crítica de filmes do banco de dados do Tomates Podres. Um filme documentário sobre a viagem de McCandless feito pelo produtor de filmes independente Ron Lamothe, The Call of the Wild, também deve ser lançado em 2007. A história de McCandless também inspirou um episódio da série de TV Millenium e canções populares do cantor Ellis Paul, Eddie From Ohio e Harrod and Funck.
Diferente de Krakauer e muitos leitores de seu livro, que possuem em grande medida uma visão simpática de McCandless, alguns alasquianos possuem visões negativas tanto de McCandless e daqueles que romantizam sua morte. McCandless estava inconsciente de que vagões operados manualmente cruzavam o rio a 400 metros do Stampede Trail, enquanto um abrigo das redondezas estava estocado com alimentos de emergência, como descrito no livro de Krakauer. O guarda florestal do Parque Alasquiano Peter Christian escreveu: “Eu estou exposto continuamente ao que chamo de ‘fenômeno McCandless’. Pessoas, quase sempre homens jovens, vêm ao Alasca para se desafiarem contra um implacável cenário selvagem onde oportunidade de acesso e possibilidade de resgate são praticamente inexistentes… quando você considera McCandless da minha perspectiva, você logo vê que o que ele fez não foi nem particularmente corajoso, apenas estúpido, trágico e inconsiderado. Primeiro de tudo, ele gastou muito pouco tempo aprendendo como realmente viver na selva. Ele chegou em Stampede Trail sem ao menos o mapa da região. Se ele tivesse um bom mapa ele poderia ter saído andando dessa situação difícil… Basicamente, Chriss McCandless cometeu suicídio.”
Judith Kleinfeld escreveu no Notícias Diárias do Ancoradouro que “muitos alasquenses reagiram com raiva a essa estupidez. Você tem que ser um completo idiota, eles disseram, para morrer de fome no verão a 30 km de distância da estrada do parque.” Será??



Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Impermanências da Permanência

"Aquilo que os homens de fato querem não é o conhecimento, mas a certeza."
__Bertrand Russell (1872-1970), matemático e filósofo britânico

Smurfs - 50 anos

Em 1958, o belga Pierre Culliford, conhecido como Peyo, criou uma história com criaturinhas azuis que, segundo ele, tinham estatura comparada a 3 maçãs empilhadas. O nome deles: “Les Schtroumpfs”. Parece familiar? Sim, você conhece, são “Os Smurfs”. Os personagens apareceram pela primeira vez em uma revista de história em quadrinhos da Bélgica, a Le Journal de Spirou, em 23 de outubro de 1958. Na década seguinte, alguns curtas de animação em preto e branco de “Os Smurfs” foram produzidos em seu país de origem. Mas foi somente em 1981, quando foram transformados em uma série animada pela Hanna-Barbera, que finalmente ganharam o mundo e tornaram-se um clássico dos desenhos infantis.Segundo Peyo, falecido em 1992, o nome original “schtroumpf” é uma palavra inventada por ele, que falou de brincadeira para pedir o sal para o amigo cartunista André Franquin durante um almoço. Ao longo dos anos, “Os Smurfs” inspiraram mais de 3 mil produtos como bonecos, jogos, parques temáticos, alimentos e discos, e venderam mais de 25 milhões de livros traduzidos para 25 idiomas. No dia 09/06, os personagens serão espalhados por vários países da Europa.

50 anos dos Smurfs:
http://happysmurfday.com/en/en/lang_select
Sobre a ligação dos smurfs e o comunismo:
http://www.arcadovelho.com.br/Desenhos_Antigos/Smurfs/Smurfs.htm

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Stamps and Letters

Selos e cartas do mundo todo. Puro deleite!

Jornais admitem: internet vai dominar em 5 anos


Em 2013, a Internet assumirá o papel dominante na comunicação. Os autores da previsão são justamente os executivos de jornais, que se reuniram no encontro anual da Associação Mundial dos Jornais, nesta terça-feira, na Suécia.A ousada afirmação é embasada em relatório da pesquisa "World Digital Media Trends".
O estudo analisa a tendência de expansão da Web e estima que, em cinco anos, será o meio de comunicação mais importante em vários países e deixarão para trás os impressos, que perderão a posição que sustentaram por mais de um século.Segundo os executivos, investimentos publicitários devem acompanhar este crescimento, assim como deve se expandir o uso de aparelhos móveis e acesso à web via banda larga. A previsão é que já em 2011, a publicidade online global atinja US$ 150 bilhões, quantia 12 vezes maior que a registrada em 2002.

Ao final do encontro, ficou a mensagem de que os grupos devem apostar na mídia digital. Entretanto, o movimento é delicado e requer cuidados para que não haja negligência com as publicações impressas.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Biblioteca de Babel - Jorge Luís Borges


«By this art you may contemplatethe variation of the 23 letters...»
The Anatomy of Melancholy, part 2, sect. II, mem. IV

O universo (a que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por parapeitos baixíssimos. De qualquer hexágono vêem-se os pisos inferiores e superiores: intermina­velmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, a cinco longas estantes por lado, cobrem todos os lados menos dois; a sua altu­ra, que é a dos pisos, mal excede a de uni bibliotecário normal. Uma das faces livres dá para um estreito saguão, que vai desembocar noutra galeria, idêntica à primeira e a todas. À esquerda e à direita do saguão há dois gabinetes minúsculos. Um permite dormir de pé; o outro, satisfazer s necessidades fecais. Por aí passa a escada em espiral, que se afunda e e eleva a perder de vista. No saguão há um espelho, que fielmente du­plica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Bi­blioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que serviria esta dupli­cação ilusória?); eu prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz provém de umas frutas esféricas que têm o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante.

Tal como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, se calhar do catálogo dos catálogos; agora que os meus olhos quase não conseguem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer a poucas léguas do hexágono em que nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me atirem pela balaustrada; a minha sepultura será o ar insondável; o meu corpo precipitar-se-á lon­gamente até se corromper e dissolver no vento gerado pela queda, que é infinita. Eu afirmo que a Biblioteca é interminável. Os idealistas ar­gumentam que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto, ou pelo menos da nossa intuição do espaço. Consideram que é inconcebível uma sala triangular ou pentagonal. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revela uma câmara circular com um grande livro circu­lar de lombada contínua, que dá toda a volta das paredes; mas o seu testemunho é suspeito; as suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico e Deus.) Basta-me por agora repetir a clássica sentença: «A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, e cuja circunferên­cia é inacessível.»
A cada uma das paredes de cada hexágono correspondem cinco pra­teleiras; cada prateleira contém trinta e dois livros de formato uniforme; cada livro é de quatrocentas e dez páginas; cada página, de quarenta li­nhas; cada linha, de umas oitenta letras de cor negra. Também há letras na lombada de cada livro; estas letras não indicam nem representam o que dirão as páginas. Sei que esta incongruência já chegou a parecer misteriosa. Antes de resumir a solução (cuja descoberta, apesar das suas trá­gicas projecções, é talvez o facto capital da história) vou rememorar alguns axiomas.
O primeiro: A Biblioteca existe ab aeterno. Desta verdade cujo coro­lário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma mente razoável pode duvidar. O homem, o imperfeito bibliotecário, pode ser obra do acaso ou dos demiurgos malévolos; o universo, com a sua elegante dota­ção de estantes, de tomos enigmáticos, de infatigáveis escadas para o via­jante e de latrinas para o bibliotecário sentado, só pode ser obra de um deus. Para perceber a distância que existe entre o divino e o humano, basta comparar estes rudes símbolos trémulos que a minha falível mão garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pon­tuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas.
O segundo: «O número de símbolos ortográficos é vinte e cinco». Foi esta observação que permitiu, há trezentos anos, formular uma teo­ria geral da Biblioteca e resolver satisfatoriamente o problema que ne­nhuma conjectura tinha ainda decifrado: a natureza informe e caótica de quase todos os livros. Um, que o meu pai viu num hexágono do circuito quinze noventa e quatro, constava apenas das letras M C V perversa­mente repetidas da primeira linha até à última. Outro (muito consultado nesta zona) é um simples labirinto de letras, mas a penúltima página diz «Oh tempo as tuas pirâmides.» Já se sabe: por uma linha razoável ou uma notícia correcta há léguas de insensatas cacofonias, de embrulhadas verbais e de incoerências. (Sei de uma bárbara região cujos bibliotecários repudiam o vão e supersticioso costume de procurar sentido nos livros e o equiparam ao de procurá-lo nos sonhos ou nas linhas caóticas da mão... Admitem que os inventores da escrita imitaram os vinte e cinco
símbolos naturais, mas afirmam que essa aplicação é casual e que os li­vros em si nada significam. Esta opinião, como veremos, não é totalmen­te falaciosa.)
Durante muito tempo julgou-se que esses livros impenetráveis cor­respondiam a línguas pretéritas ou remotas. É verdade que os homens mais antigos, os primeiros bibliotecários, usavam uma linguagem bastan­te diferente da que falamos agora; é verdade que poucas milhas à direita a língua é dialectal e que noventa pisos mais acima é incompreensível. Tudo isto, repito, é verdade, mas quatrocentas e dez páginas de inalteráveis M C V não podem corresponder a nenhum idioma, por mais dialec­tal ou rudimentar que seja. Houve quem insinuasse que cada letra podia ter influência sobre a seguinte e que o valor de M C V na terceira linha da página 71 não era o que pode ter a mesma série noutra posição de ou­tra página, mas esta vaga tese não prosperou. Outros pensaram em criptografias; universalmente, aceitou-se esta conjectura, embora não no sentido em que a formularam os seus inventores.
Há quinhentos anos, o chefe de um hexágono superior[1] deu com um livro tão confuso como os outros, mas que tinha quase duas folhas de li­nhas homogéneas. Mostrou o seu achado a um decifrador ambulante, que lhe disse que estavam redigidas em português; outros disseram-lhe que era iídiche. Em menos de um século conseguiu-se estabelecer o idio­ma: um dialecto samoiedo-lituano do guarani, com inflexões de árabe clássico. Também se decifrou o conteúdo: noções de análise combinatória, ilustradas por exemplos de variações com repetição ilimitada. Estes exemplos permitiram que um bibliotecário de génio descobrisse a lei fundamental da Biblioteca. Este pensador observou que todos os livros, por muito diferentes que sejam, constam de elementos iguais: o espaço, o ponto, a vírgula, as vinte e duas letras do alfabeto. Também acrescen­tou um facto que todos os viajantes têm confirmado: «Não há, na vasta Biblioteca, dois livros idênticos.» Destas premissas incontroversas deduziu que a Biblioteca é total e que as suas estantes registam todas as possíveis combinações dos vinte e tal símbolos ortográficos (número, embora vas­tíssimo, não infinito) ou seja, tudo o que nos é dado exprimir: em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da Biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia desses catálogos, a demonstração da falácia do catálogo verdadeiro, o evangelho gnóstico de Basilides, o comentário desse evangelho, o comentário do comentário desse evangelho, o relato verídico da tua morte, a versão de cada livro em todas as lín­guas, as interpolações de cada livro em todos os livros, o tratado que Beda pode ter escrito (e não escreveu) sobre a mitologia dos Saxões, os livros perdidos de Tácito.
Quando se proclamou que a Biblioteca abrangia todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens se sentiram senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução não existisse: nalgum hexágo­no. O universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as di­mensões ilimitadas da esperança. Naquele tempo falou-se muito das Reabilitações: livros de apologia e de profecia, que para sempre reabilitavam os actos de todos os homens do universo e guardavam arcanos pro­digiosos para o seu porvir. Milhares de cobiçosos abandonaram o doce hexágono natal e lançaram-se pelas escadas acima, impelidos pelo vão propósito de encontrar a sua Reabilitação. Estes peregrinos brigavam nos corredores estreitos, proferiam obscuras maldições, estrangulavam-se nas escadas divinas, atiravam os livros enganadores para o fundo dos túneis, morriam defenestrados pelos homens de regiões remotas. Outros enlou­queceram... As Reabilitações existem (eu vi duas que se referem a pes­soas do futuro, a pessoas porventura não imaginárias), mas os pesquisa­dores não se lembravam que a possibilidade de um homem achar a sua, ou alguma pérfida variação da sua, se pode computar à volta do zero.
Também se esperou então o esclarecimento dos mistérios básicos da humanidade: a origem da Biblioteca e do tempo. É verosímil que estes graves mistérios possam explicar-se por palavras: se não bastar a lingua­gem dos filósofos, a multiforme Biblioteca deve ter produzido o idioma inaudito que se requer, bem como os vocabulários e gramáticas desse idioma. Há já quatro séculos que os homens não dão descanso aos hexá­gonos... Há pesquisadores oficiais, inquiridores. Vi-os no desempenho da sua função: chegam sempre esgotados; falam de um escadote sem de­graus que quase os matou; falam de galerias e de escadas com o bibliote­cário; algumas vezes, pegam no livro mais próximo e folheiam-no, em busca de palavras infames. Visivelmente, ninguém espera descobrir nada.
À desaforada esperança, como é natural, sucedeu-se uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira nalgum hexágono continha livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis, pareceu quase intolerável. Uma seita blasfema sugeriu que cessassem as buscas e que todos os homens misturassem letras e símbolos, até construírem, por meio de um improvável dom do acaso, esses livros canónicos. As au­toridades viram-se obrigadas a promulgar ordens severas. A seita desapa­receu, mas na minha infância vi homens velhos que longamente se ocul­tavam nas latrinas, com uns discos de metal num covilhete proibido, e fracamente imitavam a divina desordem.
Outros, pelo contrário, acreditaram que a prioridade era eliminar as obras inúteis. Invadiam os hexágonos, exibiam credenciais nem sempre falsas, folheavam com tédio um volume e condenavam estantes inteiras: ao seu furor higiénico e ascético deve-se a insensata perda de milhões de livros. O seu nome é execrado, mas quem deplora os «tesouros» que o seu frenesi destruiu descura dois factos notórios. Um: a Biblioteca é de tal forma enorme que toda a redução de origem humana se torna infini­tésima. Outro: cada exemplar é único, insubstituível, mas (como a Bi­blioteca é total) há sempre várias centenas de milhares de fac-símiles im­perfeitos: de obras que só diferem por uma letra ou por uma vírgula. Contra a opinião geral, atrevo-me a supor que as consequências das de­predações cometidas pelos Purificadores foram exageradas pelo terror que esses fanáticos provocaram. Impelia-os o delírio de conquistar os livros do Hexágono Carmesim: livros de formato menor que os naturais; omnipotentes, ilustrados e mágicos.
Também sabemos doutra superstição daquele tempo: a do Homem do Livro. Nalguma estante de algum hexágono (pensaram os homens) deve existir um livro que seja a chave e o resumo perfeito de todos os ou­tros: deve haver algum bibliotecário que o tenha estudado e seja análogo a um deus. Na linguagem desta zona hão-de persistir ainda vestígios do culto desse funcionário remoto. Fizeram-se muitas peregrinações à pro­cura d'Ele. Durante um século percorreram em vão os mais diversos ru­mos. Como localizar o venerado hexágono secreto que o alojava? Al­guém propôs um método regressivo: Para localizar o livro A, consultar previamente um livro B que indique o sítio de A; para localizar o livro B, consultar previamente um livro C, e assim por diante até ao infinito... Foi em aventuras destas que desperdicei e consumi os meus anos de vida. Não acho inverosímil que nalguma estante do universo haja um livro total[2]; rogo aos deuses ignorados que um homem — um só que seja, há milhares de anos! — o tenha examinado e lido. Se não forem para mim a honra e a sabedoria e a felicidade, que sejam para outros. Que o céu exista, mesmo que o meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, a Tua enorme Biblioteca se justifique.
Afirmam os ímpios que o disparate é normal na Biblioteca e que o razoável (e até a humilde e pura coerência) é uma quase milagrosa excep­ção. Falam (eu sei-o) da «Biblioteca febril, cujos fortuitos volumes cor­rem o incessante risco de se transformarem noutros e que tudo afirmam, negam e confundem como uma divindade que delira». Estas palavras que não só denunciam a desordem, mas também a exemplificam, provam de maneira notória o seu péssimo gosto e a sua desesperada ignorância. Com efeito, a Biblioteca inclui todas as estruturas verbais, todas as varia­ções que permitem os vinte e cinco sinais ortográficos, mas não um úni­co disparate absoluto. Não vale a pena observar que o melhor volume dos muitos hexágonos que administro se intitula Trono penteado, e ou­tro A cãibra de gesso e outro Axaxaxas mlö. Essas propostas, à primeira vista incoerentes, sem dúvida são susceptíveis de uma justificação cripto­gráfica ou alegórica; essa justificação é verbal e, ex hypothesi, já figura na Biblioteca. Não posso combinar uns caracteres

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que a divina Biblioteca não haja previsto e que nalguma das suas línguas secretas não contenham um terrível sentido. Ninguém pode articular uma sílaba que não esteja plena de ternuras e de temores; que não seja nalguma dessas linguagens o nome poderoso de um deus. Falar é incorrer em tautologias. Esta epístola inútil e palavrosa já existe num dos trin­ta volumes das cinco prateleiras de um dos incontáveis hexágonos — e também a sua refutação. (Um número n de linguagens possíveis usa o mesmo vocabulário; numas, o símbolo biblioteca admite a correcta defi­nição ubíquo e duradouro sistema de galerias hexagonais, mas biblioteca é pão ou pirâmide ou outra coisa qualquer, e as sete palavras que a defi­nem têm outro valor. Tu que me lês, tens a certeza de que compreendes a minha linguagem?)
A escrita metódica distrai-me da presente condição dos homens. A certeza de que está tudo escrito anula-nos ou envaidece-nos. Conheço distritos onde os jovens se ajoelham diante dos livros e lhes beijam bar­baramente as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra. As epi­demias, as discórdias heréticas, as peregrinações, que inevitavelmente degeneram em banditismo, têm dizimado a população. Creio já ter men­cionado os suicídios, de ano para ano cada vez mais frequentes. Talvez me enganem a velhice e o temor, mas tenho a suspeita de que a espécie humana — a única — está prestes a extinguir-se e que a Biblioteca per­durará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.
Acabo de escrever infinita. Não intercalei este adjectivo por um hábi­to retórico; digo que não é ilógico pensar que o mundo é infinito. Quem o julga limitado, postula que em lugares longínquos os corredores e es­cadas e hexágonos podem inconcebivelmente cessar — o que é absurdo. Quem o imagina sem limites, esquece que os tem o número possível de livros. Atrevo-me a insinuar esta solução do antigo problema: A biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qual­quer direcção, verificaria ao cabo dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, repetida, seria uma ordem: a Ordem). A minha solidão alegra-se com esta elegante esperança[3].

Mar da Prata, 1941.

[1] Dantes, para cada três hexágonos havia um homem. O suicídio e as doenças pulmonares
destruíram esta proporção. Memória de indescritível melancolia: já cheguei a viajar muitas noites por corredores e escadas polidas sem encontrar um único bibliotecário.
[2] Repito: basta que um livro seja possível para existir. Só está excluído o impossível. Por exemplo: nenhum livro é também uma escada, embora sem dúvida haja livros que discutem e negam e demonstram essa possibilidade, e outros cuja estrutura corresponde à de uma escada.
[3] Letizia Álvarez de Toledo observou que esta vasta Biblioteca é inútil: rigorosamente, basta­ria um único volume, de formato comum, impresso em corpo nove ou em corpo dez, que cons­tasse de um número infinito de folhas infinitamente finas. (Cavalieri nos princípios do sécu­lo XVII disse que todo o corpo sólido é a sobreposição de um número infinito de planos.) O manejo desse vade-mécum sedoso não seria cómodo: cada folha aparente desdobrar-se-ia noutras análogas; a inconcebível folha central não teria reverso.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Aforismos

"Estava o estúdio impregnado do forte cheiro das rosas. Quando, por entre asárvores do jardim, passava a leve viração, entrava pela porta aberta o odor doslilases, de mistura com o perfume mais sutil das madressilvas.De um canto do divã entre almofadas persas, onde habitualmente se estirava,fumando inúmeros cigarros, lorde Henry Wotton percebia perfeitamente o brilhodas doces flores cor de mel, cobrindo um ébano de galhos trementes, comocansados de suportar o peso de tão fascinante esplendor."
__Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray

segunda-feira, 2 de junho de 2008

domingo, 1 de junho de 2008

Memória 2008 - Seminário sobre Museologia, História e Documentação


ABOTTC / Instituto Metodista Granbery / MPF – Movimento de Preservação Ferroviária
Local: Juiz de Fora/MG
Período: 5 a 7 de junho
Informações: www.granbery.edu.br/memoria2008
e-mail: memoria2008@granbery.edu.br
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