terça-feira, 29 de julho de 2008

Protocolos Ficcionais - Umberto Eco


De qualquer modo, não deixamos de ler histórias de ficção porque nelas que procuramos uma fórmula para dar sentido a nossa existência. Afinal, ao longo de nossa vida buscamos uma história de nossas origens que nos diga por que nascemos por que vivemos. Às vezes procuramos uma história cósmica, a história do universo, ou nossa história pessoal. Às vezes, nossa história pessoal coincide com a história do universo.

Aconteceu comigo, conforme atesta a seguinte narrativa natural:

Há alguns meses fui convidado a visitar o Museu da Ciência de La Corunã, na Galícia. Ao final da visita, o curador anunciou que tinha uma surpresa para mim e me conduziu ao planetário. Um planetário sempre é um lugar sugestivo de estar num deserto sob um céu estrelado. Mas naquela noite algo especial me aguardava.

De repente, a sala ficou inteiramente às escuras, e ouvi um lindo acalanto de Manuel de Falla. Lentamente (embora um pouco mais depressa do que na realidade, já que a apresentação durou ao todo quinze minutos) o céu sobre a minha cabeça se pôs a rodar. Era o céu que aparecera sobre a minha cidade natal – Alessandria, na Itália – na noite de 5 para 6 de janeiro de 1932, quando nasci. Quase hiper-realisticamente vivenciei a primeira noite de minha vida.

Vivenciei-a pela primeira vez, pois não tinha visto essa primeira noite. Provavelmente, nem minha mãe a viu, exausta como estava depois de me dar à luz; mas talvez meu pai a tenha visto a sair para o terraço um pouco agitado com o fato maravilhoso (ao menos para ele) que testemunhara e ajudara a produzir.

O planetário usava o artifício mecânico que se pode encontrar em muitos lugares. Outras pessoas talvez tenham passado por uma experiência semelhante. Mas vocês hão de me perdoar que durante aqueles quinze minutos tive a impressão de ser o único homem desde do início dos tempos que havia tido o privilégio de encontrar com seu próprio começo. Eu estava tão feliz que tive a sensação – quase o desejo – de que podia, deveria morrer naquele exato momento e que qualquer outro momento seria inadequado. Teria morrido alegremente, pois vivera a mais bela história que li em toda a minha vida. Talvez eu tivera encontrado a história que todos nós procuramos nas páginas dos livros e nas telas dos cinemas: uma história na qual a estrela e eu éramos protagonistas. Era ficção porque a história fora reinventada pelo curador, era História porque recontava o que aconteceu no cosmos num momento do passado; era real porque eu era real e não uma personagem de romance. Por um instante, fui leitor-modelo do Livro dos Livros.

Aquele foi um bosque da ficção que eu gostaria de nunca ter deixado.

Mas como a vida é cruel, para vocês e para mim, aqui estou.


Fonte: ECO, Humberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Biblioteca Secreta



Uma biblioteca secreta, escondida dentro da oficial. Assim é o Inferno, acervo oculto que resguarda livros tidos como imorais, malditos, proibidos. Na Biblioteca Nacional (BN), a maior do país, o Inferno era, há muito, esparramado. Mais limbo, até: feito de livros como que invisíveis, intencionalmente de fora dos registros, escondidos em prateleiras convencionais. Pois agora, finalmente, o Inferno está virando coleção. Por lá, já estão obras como O menino do Gouveia, considerado o primeiro conto homoerótico brasileiro. E uma edição de Minha luta, o livro proibido de Adolf Hitler. Se não tivessem sido incorporados ao acervo secreto, teriam queimado no fogo da censura. O Inferno os salvou. Mas só agora, pouco a pouco, têm conseguido deixar a clandestinidade. Até o dia 22 de agosto, parte do Inferno da BN pode ser visto pelo público, na mostra "Homoerotismo: prazer entre iguais". A exposição reúne cerca de 20 livros – uma primeira amostragem do que seria o Inferno restaurado.


Obras Raras e Homoerotismo
Exposição de livros da Divisão de Obras Raras de 07 de julho a 22 de agosto de 2008
das 10 às 16 horas - Exposição de conteúdo adulto


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Ilha Grande (RJ)


Um pedaço do paraíso...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Nascimento do prazer - Clarice Lispector

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar-se inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido.
Pois o prazer não é de se brincar com ele.
Ele e nós.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Livro: A Cegueira e o Saber - Affonso Romano de Sant'Anna

Ler (ou reler) as "crônicas culturais" de Affonso , como ele mesmo as denomina, sem ter que esperar por elas em jornais ou revistas, é um renovado prazer propiciado por este livro. A reconhecida lucidez do poeta e professor de literatura serve de leme para quem se interessa por "entender a ´contemporaneidade´ e rever a tradição". Nas seis primeiras crônicas, que dão título ao livro, o autor seleciona lendas, mitos e textos literários sobre o "intrigante tópico da cegueira e do (não) saber", como o Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, Em terra de cego, conto de H. G. Wells, A carta roubada, de Poe, A nova roupa do imperador, de Andersen, entre outros, para apresentar os vários aspectos do ver e do não-ver - a cegueira como uma praga temporária, a visão arrogante que não enxerga o óbvio, o pacto social em torno do não-ver, a sabedoria que ilumina a vida interior, o desafio de ver o mundo com novos olhos. O estilo agradável, lúcido e didático de Affonso Romano de Sant´Anna conduzirá o leitor a um prazeroso mergulho em suas crônicas, uma após outra, descobrindo os percalços de uma carreira de escritor às voltas com a folha em branco ou com as recusas dos editores à publicação. Como surge uma obra literária? Como fazer emergir a poesia? Como publicar e ter sucesso? Estas são algumas das muitas questões que o autor considera "perguntas simples, respostas complexas". Para auxiliá-lo nas respostas, apresenta aos leitores o trabalho do escritor italiano, Mario Baudino, com o livro

A grande recusa, que conta a história de rejeições, por parte das editoras, a grandes escritores, como Scott Fitzgerald, James Joyce, D. H. Lawrence, Hemingway e muitos outros. "E, entre tantos casos da literatura moderna, dois se tornaram célebres: as recusas de Em busca do tempo perdido, de Proust, e O Gattopardo, de Tomasi de Lampedusa." Esta descoberta certamente levará o leitor/escritor a "se espantar e até se sentir estimulado a continuar recebendo negativas sem tanto sofrimento". Há, ainda, dois aspectos do livro de Affonso Romano de Sant´Anna que merecem ser realçados. Primeiramente, por não se considerar um crítico literário, sua evidente intenção é despertar a sensibilidade e a lucidez dos leitores em relação aos autores que apresenta em suas crônicas, o que ele faz com indiscutível delicadeza, prenunciando o prazer dessas leituras. O outro aspecto é a sua indisfarçável paixão por viagens, que contagia o leitor com as vivas descrições dos locais que simplesmente visita ou para onde vai declamar seus poemas, como na crônica No Chile de Neruda. E, em algum momento, ensina que "a arte de viajar tem que envolver todos os sentidos. Por isso é que a sensualidade e o amor podem transformar a arte de viajar numa arte maior".


Link com alguns textos do livro:

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Seminário Latino-Americano Arquitetura e Documentação

O encontro é promovido pela Escola de Arquitetura da UFMG e será realizado entre 10 e 12 de setembro, na sede do Crea-MG. O objetivo do seminário é discutir a rica relação entre a arquitetura e a documentação, além da situação da pesquisa na área da História da Arquitetura e do Urbanismo na América Latina, que nos últimos anos tem passado por mudanças significativas, retomando a consulta a fontes primárias e refazendo versões tradicionais da historiografia dominante.

Outras informações: http://www.forumpatrimonio.com.br/2008/

terça-feira, 8 de julho de 2008

Exposição Bossa na OCA

A cinqüentona bossa nova toma um banho de luz para virar protagonista de uma espécie de parque temático no Ibirapuera a partir desta semana: são duas grandes exposições que vão ocupar a Oca e o Pavilhão da Bienal. Hoje, abre para o público Bossa na Oca, projeto hi-tech, que integra o evento Itaúbrasil. Na próxima segunda, a Rádio Eldorado comemora seu cinqüentenário com a mostra Bossa 50.

Com curadoria do artista multimídia Marcello Dantas e do videomaker Carlos Nader, Bossa na Oca - que vai ficar dois meses em cartaz e tem entrada franca às terças - é interativa e quase toda virtual. Utilizando alta tecnologia em todos os aspectos, a mostra reúne documentários inéditos, imagens históricas, projeções holográficas, iluminação e montagem modernas, dialogando com a estética da bossa nova e com a do espaço da Oca (tem até uma praia artificial). Tudo isso, claro, banhado o tempo todo por muita música prazerosa, que é, afinal, a matéria-prima de todo o projeto.


Os documentários em curta-metragem prometem abordagens inusitadas sobre o tema e serão exibidos em dez painéis de placas de vidro. Um desses filmes traz Tom e Vinicius contando como fizeram Orfeu da Conceição. Outro tem Nara Leão e João do Vale em imagens raras do show Opinião.


Além de imagens em movimento, há também fotos raras e 94 gravações dos clássicos da bossa nova, que o público pode ouvir em jukeboxes estilizados em forma de LP. São espécies de Ipods em que se escolhe o que ouvir com simples toques manuais nas telas, que trarão informações e imagens dos discos relacionados à gravação selecionada. Tanto nas estações interativas dos jukeboxes como no espaço das placas de vidro, o sistema de som é localizado, ou seja, só pode ser ouvido no ponto situado na linha das telas, não vaza para fora.


O evento promove até um encontro virtual entre ídolos como Tom Jobim, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, entre outros, tendo Johnny Alf ao piano. Sua imagem projetada sobre o instrumento, este real, tem um efeito interessante. Esse encontro, para o qual foi montado um palco com pufes na platéia, é realizado por meio de uma técnica holográfica (a Eyeliner), que o grupo virtual Gorillaz utiliza em suas apresentações. Segundo Dantas, é a primeira vez que essa tecnologia será vista ao vivo no Brasil.


Confira os destaques da exposição:

Beco das Garrafas
O famoso templo da bossa foi remontado em um palco. Um piano (com um copo de uísque para Vinicius) e um banquinho dividem espaço com imagens holográficas de músicos como Ella Fitzgerald e Frank Sinatra. A cada 15 minutos, eles executam, juntos, "Garota de Ipanema", graças à tecnologia "eyeliner" (a mesma usada pelo grupo virtual Gorillaz).

Praia de Copacabana
A areia e o clássico calçadão preto-e-branco de pedras portuguesas (em formato semicirular) representam a praia de Copacabana (RJ). A montagem ocupa cerca de 800 m2 do subsolo da Oca. Uma iluminação feita nas paredes simula a passagem do dia para a noite.

Projeção do Mar
O teto da Oca recebe uma enorme projeção do mar, feita por um projetor de 42 mil lumens, que garante uma potente definição e alto brilho na imagem -um VJ costuma utilizar projetores de, no máximo, 4.000 lumens em apresentações. A imagem pode ser vista no último andar, em um sofá, enquanto uma vitrola executa canções da bossa nova.

Vinicius de Moraes
O curta-metragem inédito de Miguel Faria Jr., "Vinicius de Moraes", com dez minutos de duração, é exibido na parede semiconvexa do museu. Criado especialmente para a exposição, o filme conta com imagens que não entraram no longa "Vinicius", do mesmo diretor. O som sai de luminárias, dispostas ao lado de 30 poltronas.


Local: Pavilhão da OCA - Parque do Ibirapuera - SP
Preço(s):R$ 20,00.
Data(s):De 08 de julho até 07 de stembro de 2008.
Horário(s):Terça a domingo, das 10h às 21h.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Inverno


Globais?

A globalização que começou nas Grandes Navegações alcançou todos os países que fazem parte da esfera capitalista e administram as relações comerciais no mundo. Tentam administrar um capital exorbitante e invisível que pode acabar com a economia de um país em desenvolvimento, quando este, passa a ser visto pelo resto do mundo como um País de risco para investimentos. Somos lesados pela falta de um dinheiro que nem existe.

Vive-se da cultura do efêmero, onde até a moda é passageira, mas é na maioria das vezes resgatada, o modo de vestir é regatado, como se isto fosse um resgate do modo de viver das pessoas que viveram em outros tempos. Podemos afirmar, que a informação é sempre nova, se para cada um, ela traz um sentido diferente. A questão passa a ficar complicada por causa do grande volume informacional produzido atualmente. E pensar que um dia ele pode ser condensado em uma Enciclopédia, e hoje, é mudado a cada segundo e a nossa capacidade de absorção é a mesma e conseqüentemente o nosso tempo também para acompanhar estas mudanças.

Na sociedade de consumo em que vivemos, hoje, acredita-se que ser cidadão é poder consumir todos os produtos que são oferecidos. É usar o capital na compra de bens simbólico, um capital que ele vendeu a sua força de trabalho para conseguir, ganhando menos do que realmente vale e gerando lucros para o empregador. Realmente é irônico ser cidadão por este ponto de vista, pois se trabalha para se ter capital e é aplicado no capitalismo novamente. É acreditar também que se exerce somente a cidadania no dia em que se vota. É esquecer que cidadania é muito mais do que isto. É ter participação coletiva nos espaços públicos em que convivemos. É lembrar da música: "... a gente quer ter voz ativa e no nosso destino mandar
[1]".

Campanhas publicitárias já anunciaram que somos "cidadãos do mundo". É um modo de resgatar situações que só eram imaginadas na literatura. Mas é só não nos esquecermos que antes de estarmos inseridos no mundo, somos um cidadão local, inserido com a nossa cultura, o nosso modus vivendi, o nosso grupo de convívio, o nosso pertencimento. Onde assim espera-se que indivíduos exerçam a sua cidadania.

[1] Música Roda Viva-1967 de Chico Buarque

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Aforismos

"Mas não se esqueça:
Assim como não se deve misturar bebidas,
misturar pessoas também pode dar ressaca."
__Martha Medeiros

Seminário CPDOC - Quando o campo é o arquivo - 2008


A primeira edição do seminário (2004) teve como objetivo reunir trabalhos sobre a constituição e organização de arquivos de antropólogos, de instituições de antropologia e o uso desses documentos na análise e pesquisa antropológicas. Um dos resultados foi a publicação de um número temático da revista Estudos Históricos sobre "Antropologia e Arquivos", em 2005. Para 2008, a segunda edição do seminário propõe a entrada em outro campo: o audiovisual.


De que maneira a experiência etnográfica vem sendo transformada em documentos visuais? Quais são os efeitos dessas transformações na produção do conhecimento antropológico e nas vidas dos sujeitos que se tornam objetos de novos olhares? De que maneiras documentos visuais mantidos em acervos, coleções e arquivos têm sido utilizados, reapropriados e reproduzidos por populações tradicionais? Que poéticas, políticas e debates têm suscitado? Essas são algumas questões que o Seminário Quando o campo é o arquivo deste ano pretende levantar. O objetivo do evento é refletir sobre o uso de fontes arquivísticas na pesquisa antropológica e sua relação com a produção etnográfica.


Quando o campo é o arquivo - 2008
Datas: 2 e 3 de dezembro de 2008
Mais informações e inscrições:
http://www.cpdoc.fgv.br/campo-arquivo

Museu do Livro

A prefeitura de Lajeado, no Vale do Taquari (RS), inaugurou ontem o Museu do Livro, no pórtico de entrada do Parque Histórico Municipal.

O local funcionará como acervo histórico e disponibilizará cerca de 2 mil livros, entre eles obras datadas de 1832 e livros didáticos usados no início do século passado. Parte do material foi doado pela comunidade e por historiadores e outros são oriundos do acervo da Biblioteca Municipal.

- Pelo material encontrado no museu, as pessoas poderão realizar pesquisas - comenta a titular da Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur), Adriana de Carvalho.
A cerimônia de inauguração ocorreu às 10h. Na ocasião, os historiadores Wolfgang Collishonn e José Alfredo Schieroldt foram nomeados padrinhos do museu.
- As obras são uma forma de analisar e resgatar antigos hábitos. Um livro que hoje não tenha muito significado pode ser de muito valor no futuro e, por isso, a importância de um local adequado e seguro para a sua preservação. Povo que preserva a história tem sensibilidade para a cultura - comenta Collishonn.


Fonte: Jornal Zero Hora

quarta-feira, 2 de julho de 2008

UFMG cede veículo do Projeto Carro-Biblioteca

O automóvel antigo será repassado para a Fundação Municipal de Cultura.

Escrever com o Google Earth

Já havia imaginado ver os edifícios do alto e visualizar letras do alfabeto?
Pois é, esta é a última novidade do Google Earth.

Confira o link: http://www.geogreeting.com/view.html?yknyBosUoCmBoFoBUmywUonspsmsyCaU
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